domingo, 25 de agosto de 2013

Povoado de Piedade Perde sua Heroína



A heroína

 

Antônia Maria das Neves
Lucidez inquestionável




Nunes, Cecy Eugenia.
Biografia de Antonia Maria das
Neves/cecy Eugênia Nunes – Piedade, 2009


Dedicatórias

Á venerável memória do meu pai Antonio Eugênio Nunes, o qual me doou a riqueza da honradez e a firmeza de caráter. Um abraço fraterno.
Á indestrutível união de irmãos, filhos, sobrinhos netos e bisnetos, demais familiares, a todos os meus sentimentos de gratidão.


Agradecimentos


Á Deus por ter me dado inspiração para realização deste trabalho
As professoras Alana Maria Cordeiro Fragoso e Marileide Guedes Justino por idealizarem esse trabalho.
Ao Dr. Agostinho e Alane Eugênia Nunes pela suas participações especiais.
E especialmente aos meus irmãos que contribuíram na edição do mesmo.



Apresentação

Dona Antonia uma grande mulher que Piedade conhece como grande trabalhadora sempre honrou os seus princípios e a ética, como autodidata fez do pulso educação educando sua prole e entre os altos e baixos da vida venceu doenças degenerativas como a diabetes militrus, e hoje com mais de 90 anos é lúcida, coerente e tranquila. Tornou-se uma conselheira, poetisa e historiadora, mulher de fibra e fraterna que tomou as rédeas na mão com a morte de seu esposo.
Durante essa caminhada de longos anos de vida, sofredora e persistente, nunca abandonou a Bandeira da Fraternidade. Sempre se serviram na sua mesa aqueles que passam fome e serviu o alimento da pregação, da justiça, pois é profundamente religiosa, na teologia, sempre usou como defesa a imagem de Jesus Cristo. Por isso eu quero dizer: Dona Antônia é heroína que o tempo há de respeitá-la e eu que a conheço humildemente posso dizer
“Quem pensa que o tempo passa
                                       Por certo não pensa nele
                                       O tempo passa por tudo
                                       Mas tudo passa por ele ”
.











                                   Dr. Agostinho – Médico – M.D


Prefácio

Sua neta Alanne Eugênia nesta homenagem fala de sua avó Antônia com muito carinho, admiração e agradecimento. Ela intitulou o seu texto como:
Um momento histórico
Grandes momentos não costumam se fazer anunciar. Ninguém imaginaria que uma mulher fruto de uma terra tão esquecida, iria ser pioneira em tantos seguimentos e influenciar nas vidas de tantas pessoas; sim, com toda certeza, cada pessoa que nasce hoje nesta terra, deve isso a ousadia de pessoas como D. Antonia.
Porém, ela sendo minha avó, é difícil não levar para o campo pessoal. Todo carinho que me devoto durante todos esses anos não podem ser esquecidos. E mesmo quando estamos a um mundo de distância uma da outra, posso sentir sua presença, a força de sua existência, atuando em mim.
Quando converso com ela, é bem fácil visualizar sua luta: ela criou filhos, alguns netos e até pessoas que não faziam parte da família, mas que ela sempre manteve sobre sua mão maternal e amiga. Também conta o fato que ela lembra-se de todos eles e lhes dedica o mesmo amor de tantos anos atrás. 
Ela é uma heroína, nunca desistiu nunca se entregou e nunca se vendeu... Mesmo com todas as adversidades. De fato, dedicar sua vida ao progresso de um ambiente praticamente inóspito, ajudar milhares de vida com seu trabalho e colocar alma e coração em tudo que faz, não são atitudes de pessoas comuns; são para pessoas extraordinárias, como D. Antonia.
Sentar e conversar com minha avó, não é apenas desperdiçar palavras; É como reviver um tempo. Ouvir tudo que ela viveu não causa inveja... Causa admiração e esperança, pois sei que mulheres como ela, vivem para sempre.
Ela não é apenas minha avó: é mãe, tia, madrinha, irmã... O parentesco varia e isso não vale apenas para familiares, vale também para todas as pessoas que conviveram ou ainda convivem com ela.
Por fim, queria dizer o quanto fico triste por não conseguir expressar em palavras tudo que estou sentindo nesse momento. Porém, felicito-me em saber que minha Vó Tonha não seja apenas admirada como protagonista de diversos momentos históricos, pois ela é mais que isso; não só participou deles, como fez de sua vida um momento histórico... E, com toda certeza, um dos mais bonitos, sublimes e prósperos que já existiu.



Alanne Eugênia
                                                                                                             (16 anos)








D. Antônia e Alanne










ANTONIA MARIA DAS NEVES – Poetisa e historiadora. Nasceu no sitio Tanque Coberto, município de Teixeira, estado da Paraíba, a 03 de junhode 1918. Filha dos agricultores Manoel Firmino Ferreira e Secundina Maria da Conceição.





Sua mãe Secundina                                     casa onde nasceu
Por ter ficado órfã de pai aos três anos de idades e ser de uma família grande de oito irmãos,começou a trabalhar ainda criança para suprir as suas necessidades e conseguir comprar seu material escolar que era composto de um livro, lápis grafite e os cadernos eram confeccionados por ela mesma com papel de embrulho, linha e agulha. Seus irmãos são:
Etelvina                                              Francisco                                       Sebastiana

            José                                              João                                               Antonia
            Com todas essas dificuldades conseguiu concluir o primário (hoje Fundamental I) no mesmo sitio que nasceu tendo como professora a inesquecível Nazinha que ainda reside na cidade de Teixeira.





Nazinha
Entre os alunos de sua classe ela se destacava em todas as disciplinas, pois era muito inteligente e estudiosa, ajudando muitas vezes aos seus colegas nas tarefas de casa. Apesar de ter nascido em um berço de pobreza teve uma infância feliz, sempre em contato com os animais e a natureza. Sempre frequentava o vilarejo o qual era chamado de Vila Nova (hoje Piedade), onde visitava alguns parentes e amigos, essas visitas se tornaram mais frequentes com a chegada do ouro, na década de 30, foi devido à movimentação desse minério e a grande circulação de pessoas que ela resolveu colocar um hotel onde atendia todas as pessoas da comunidade e cidades circunvizinhas, tornando-se a primeira hoteleira de Piedade. Foi nessa época que conheceu um jovem visitante que também abrira negócios no vilarejo, Antonio Eugênio, natural de sitio São Sebastião, município de Desterro, no estado da Paraíba.


           

           
Antônia aos 17 anos                          Antônio Eugênio
 Foi numa novena no dia 13 de maio de 1940 que se conheceram e logo se apaixonaram, foram 4 anos de namoro, casaram-se na capela de nossa Senhora de Piedade a 24 de dezembro de 1945, celebrado pelo padre João Leite, pároco da matriz de Itapetim. O senhor Antonio Eugênio foi também conhecido como um dos primeiros comerciantes de Piedade. Juntos tiveram nove filhos.Sendo que o primogênito faleceu ainda criança.
José Eugênio                     Romualdo                      EugênioRaimunda 
Luiz                              Sebastião                     MariaCecy

Os seus oito filhos tiveram uma boa educação, sendo todos encaminhados para o curso superior, devemos isso aos esforços de nossos pais, principalmente a nossa matriarca, que apesar de seus poucos estudos dedicava seu tempo livre a ensinar os seus filhos a ler, escrever e os ensinamentos da igreja, pois é uma pessoa extremamente religiosa
.

Dotada de uma memória excepcional e por ser uma pessoa dedicada aos livros tornou-se uma criatura de extrema sabedoria, chegando a surpreender estudiosos e autoridades, conseguindo discutir e debater qualquer assunto, seja esse político, social, econômico ou cultural. Admiradora da geografia e da história, apesar dos seus 91 anos de idade consegue relatar toda a trajetória da revolução de 30, recitando algumas estrofes do verso escrito na detenção por João Dantas, antes do seu suicídio e descrever com clareza a maior parte da geografia do Brasil e do mundo.
Poesia escrita em homenagem ao Brasil

Oh! Meu Brasil terra adorada
Na santa cruz abençoada
Minha terra enternecida
Eu te consagro a minha vida

Brasil, és expiração
 De Pedro Álvares Cabral
Brasil, és a criação
Amar a outra sem igual

Abençoada caravelas
Que Deus lançou no alto mar
Bonitas e lindas caravelas
Que o meu Brasil veio encontrar
Poesia de João Dantas               
Já houve tanta desgraça
Que abalou meu coração
Só falta ser derrubado
As paredes da detenção

Adeus meus queridos pais
Adeus minha noiva querida
Que um pobre como eu
Não mereço mais ter vida

Minha irmãzinha querida
Teu esposo vai comigo
Sei que a culpa condena
Mais dele eu sou um amigo







Quanto à história do município de Itapetim é uma das historiadoras, descrevendo a história do povoado de Piedade desde a época de sua fundação até hoje, já tendo sido entrevistada pelo jornal Horizonte da cidade de São José do Egito.


A seguinte reportagem fala da história da Piedade contada por dona Antônia e outros moradores da comunidade.


E sendo uma das colaboradoras nos livros “Itapetim cidade das pedras Soltas” de Marcos Roberto Nunes Costa, e “História Socioeconômica das Regiões de São Vicente e Piedade” de Alberto Rodrigues de Oliveira.
A partir de seus 80 anos de idade tornou-se diabética e mesmo com todas as complicações dessa doença, não se deixou abater, e com muita lucidez atropelou a diabete, pois aos 91 anos de idade partiu para uma nova etapa de sua vida, fazer poesia, de forma divertida e criativa e em algumas de suas colocações diz que vai parar no livro dos recordes.
Se referindo a sua terra natal ela fez a seguinte poesia;
Quero ver minha Teixeira
Terra do meu coração
Vou ao sitio Tanque Coberto
 Que tenho admiração
Seu povo alegre, hospitaleiro
Dando viva a São João



Crie-me em Tanque Coberto
Município de Teixeira
Vivi mais de vinte anos
Naquela serra altaneira
Vivi tranquila e feliz
Com minha família inteira.

Recordando a sua união com o seu falecido marido, ela diz o seguinte:
Eu conheço Piedade
Desde o tempo de criança
Piedade foi meu destino
E foi minha esperança
Casei-me na Piedade
Nunca saiu da lembrança

Antonio quando correu
Foi com a chibata na mão
Tinha uma burra selada
Montou e queimou o chão
Mandou dizer a Antonia
 Descansa teu coração.


Oh!  Antonio eu não gosto
De relembrar o passado
Ainda ontem eu vi Antonio
Montado no seu cavalo
Dando tapa em novilha
Na fazenda Olho D’água.

Poesia homenageando a terra que adotou para viver toda a sua vida sua vida.
A minha terra querida
Vida minha me convém
O povo de Piedade
Sabe a força que tem
Por você eu mato e morro
Pois nunca matei ninguém.


Meus filhos quando eu morrer
Não quero choro, nem nada
Quero um cordão na cintura
E a mortalha bordada
Escrito no meu cachão
“Lembranças da Piedade”.

Nos momentos de angústia por causa de sua doença ela escreveu as seguintes poesias:
Eu moro na Piedade
 Nesta grande solidão
Sem amigo e sem parente
Sem cunhado e sem irmão
Numa cadeira de roda
Eu ando no empurrão
Com minha perna quebrada
Não posso pisar no chão.

Eu aqui na Piedade
Não tenho mais quem me adore
Nem uma cama que me deite
Nem um ombro que me escore
A boca dizendo cante
E alma dizendo chore.

Falando do amor que sente pelos seus animais de estimação. Ela fez a seguinte poesia:
Quando eu sair dessa casa
Levo a saudade ao meu lado
Saudades dos passarinhos
E do querido veado
 Saudades do papagaio
Que é o meu advogado.
Sentido saudades de sua mocidade, ela disse:
Na minha mocidade
Eu era chamada de bem
Hoje me chamam de velha abusada
Que não gosta de ninguém
Porque eles não entendem
O valer que o velho tem.



Falando de seu neto ela fez a seguinte poesia:


Matheus é o meu neto
Que eu amo e quero bem
Não tem balança que pese
A força que o amor tem
O amor é como a morte
Que não escolhe ninguém.

Matheus é um menino
Que não gosta de estudar
Quando pega no caderno
Dá vontade de aboiar
Quando ele pega no livro
Dá vontade de chorar.

Se referindo a sua filha, ela escreveu a seguinte poesia:
Cecy é para mim um encanto
De amor e formosura
Não é tanto no saber
Como também na leitura
Admira a Piedade
Essa querida figura.
Em relação ao médico do PSF de Piedade, em um dos seus debates,ela escreveu a poesia:

Agostinho na Piedade
Só queria ser o maior
Bota a corda no pescoço
E não sabe arrochar o nó
Poeta como Agostinho
Eu dou pisa de cipó.


Ao receber um presente do seu genro Audimam, ela agradeceu dizendo:
 Obrigado pelo presente
Foi dado de coração
Nesta cadeira de roda
Eu ando ao empurrão
Agora com essas luvas
Não faço calo na mão.

Como é uma pessoa romântica, amante da natureza, ela fez as poesias:
Eu não sei compreender
A força que o amor tem
O amor é como a morte
Que não separa ninguém
Quem tem amor tem ciúmes
Quem tem ciúmes quer bem.
Naquela tarde chuvosa
Que eu te encontrei
Muitos passos foram dados
Quando eu me afastei
Ainda olhei para traz
E de tristeza chorei.
Referindo-se a seu novo talento, declamou a poesia:
Eu nasci para ser poeta
Porém não tive estudo
Quando pego no caderno
Os meus dedos ficam duros
Então o povo diz
 É poeta do absurdo.

Ao receber a presença do prefeito de Itapetim
A senhor Adelmo Moura
Prefeito de Itapetim
Visitou a minha casa
Fazendo elogios a mim
Dizendo - Vou juntar suas poesias
A história de Itapetim


Falar de Dona Antônia esta mulher extraordinária, mãe, avô,bisavô, amiga onde nos seus pensamentos conseguiu penetrar no âmago das coisas, ou seja, na verdade sempre teve um fraco pela beleza da natureza, pela música e pela poesia, enfim que de tanto acenar-lhe veio morar na sua alma.

Antônia - CantoraAntônia – Música
Atualmente ela tem 21 netos e 08 bisnetos.
Júnior                                 Clayton                              Luciano                     Paraguassu
Audinete                               Rigoberta                             Rubens                            Luanne e Alanne
Mathuzálem                        MárciaMarco Aurélio                                 Eugênio
Matthaus                                     KésiaYago                                              Carlos                                    
Vitória                 Anderson                                           Isabela

Quem a conhece poderá encontrá-la ao entardecer na frente de sua casa, sentada na sua cadeira de roda a sorrir e conversar com as pessoas que por ali passam. Acompanhada do seu grande amigo e advogado, o papagaio, que é assim como ela o chama. Essa figura simpática, de uma meiguice e serenidade que nos encanta logo à primeira vista e que se tornou um marco na história da Piedade.
Dona Antonia com seu papagaio Dona Antônia de frente a sua casa