A
heroína
Antônia Maria das Neves
Lucidez
inquestionável
Nunes, Cecy Eugenia.
Biografia de Antonia Maria das
Neves/cecy Eugênia Nunes – Piedade, 2009
Dedicatórias
Á venerável memória do meu pai Antonio Eugênio Nunes, o qual
me doou a riqueza da honradez e a firmeza de caráter. Um abraço fraterno.
Á indestrutível união de irmãos, filhos, sobrinhos netos e
bisnetos, demais familiares, a todos os meus sentimentos de gratidão.
Agradecimentos
Á Deus por ter me dado inspiração para
realização deste trabalho
As professoras Alana Maria Cordeiro Fragoso
e Marileide Guedes Justino por idealizarem esse trabalho.
Ao Dr. Agostinho e Alane Eugênia Nunes pela
suas participações especiais.
E especialmente aos meus irmãos que contribuíram
na edição do mesmo.
Apresentação
Dona
Antonia uma grande mulher que Piedade conhece como grande trabalhadora sempre
honrou os seus princípios e a ética, como autodidata fez do pulso educação
educando sua prole e entre os altos e baixos da vida venceu doenças
degenerativas como a diabetes militrus, e hoje com mais de 90 anos é lúcida,
coerente e tranquila. Tornou-se uma conselheira, poetisa e historiadora, mulher
de fibra e fraterna que tomou as rédeas na mão com a morte de seu esposo.
Durante
essa caminhada de longos anos de vida, sofredora e persistente, nunca abandonou
a Bandeira da Fraternidade. Sempre se serviram na sua mesa aqueles que passam
fome e serviu o alimento da pregação, da justiça, pois é profundamente
religiosa, na teologia, sempre usou como defesa a imagem de Jesus Cristo. Por
isso eu quero dizer: Dona Antônia é heroína que o tempo há de respeitá-la e eu
que a conheço humildemente posso dizer
“Quem pensa
que o tempo passa
Por
certo não pensa nele
O tempo
passa por tudo
Mas tudo
passa por ele ”
.
Dr. Agostinho – Médico – M.D
Prefácio
Sua neta Alanne Eugênia nesta homenagem fala de sua avó
Antônia com muito carinho, admiração e agradecimento. Ela intitulou o seu texto
como:
Um momento histórico
Grandes momentos não
costumam se fazer anunciar. Ninguém imaginaria que uma mulher fruto de uma
terra tão esquecida, iria ser pioneira em tantos seguimentos e influenciar nas
vidas de tantas pessoas; sim, com toda certeza, cada pessoa que nasce hoje
nesta terra, deve isso a ousadia de pessoas como D. Antonia.
Porém, ela sendo minha
avó, é difícil não levar para o campo pessoal. Todo carinho que me devoto
durante todos esses anos não podem ser esquecidos. E mesmo quando estamos a um
mundo de distância uma da outra, posso sentir sua presença, a força de sua
existência, atuando em mim.
Quando converso com
ela, é bem fácil visualizar sua luta: ela criou filhos, alguns netos e até
pessoas que não faziam parte da família, mas que ela sempre manteve sobre sua
mão maternal e amiga. Também conta o fato que ela lembra-se de todos eles e
lhes dedica o mesmo amor de tantos anos atrás.
Ela é uma heroína,
nunca desistiu nunca se entregou e nunca se vendeu... Mesmo com todas as
adversidades. De fato, dedicar sua vida ao progresso de um ambiente
praticamente inóspito, ajudar milhares de vida com seu trabalho e colocar alma
e coração em tudo que faz, não são atitudes de pessoas comuns; são para pessoas
extraordinárias, como D. Antonia.
Sentar e conversar com
minha avó, não é apenas desperdiçar palavras; É como reviver um tempo. Ouvir
tudo que ela viveu não causa inveja... Causa admiração e esperança, pois sei
que mulheres como ela, vivem para sempre.
Ela não é apenas minha
avó: é mãe, tia, madrinha, irmã... O parentesco varia e isso não vale apenas
para familiares, vale também para todas as pessoas que conviveram ou ainda
convivem com ela.
Por fim, queria dizer
o quanto fico triste por não conseguir expressar em palavras tudo que estou
sentindo nesse momento. Porém, felicito-me em saber que minha Vó Tonha não seja
apenas admirada como protagonista de diversos momentos históricos, pois ela é
mais que isso; não só participou deles, como fez de sua vida um momento
histórico... E, com toda certeza, um dos mais bonitos, sublimes e prósperos que
já existiu.
Alanne
Eugênia
(16
anos)
D. Antônia e Alanne
ANTONIA MARIA DAS NEVES – Poetisa
e historiadora. Nasceu no sitio Tanque Coberto, município de Teixeira, estado da Paraíba, a
03 de junhode 1918. Filha dos agricultores Manoel Firmino Ferreira e Secundina
Maria da Conceição.
Sua mãe Secundina casa onde
nasceu
Por ter ficado órfã
de pai aos três anos de idades e ser de uma família grande de oito
irmãos,começou a trabalhar ainda criança para suprir as suas necessidades e
conseguir comprar seu material escolar que era composto de um livro, lápis
grafite e os cadernos eram confeccionados por ela mesma com papel de embrulho,
linha e agulha. Seus irmãos são:
Etelvina Francisco Sebastiana
José João Antonia
Com todas essas
dificuldades conseguiu concluir o primário (hoje Fundamental I) no mesmo sitio
que nasceu tendo como professora a inesquecível Nazinha que ainda reside na
cidade de Teixeira.
Nazinha
Entre os alunos de
sua classe ela se destacava em todas as disciplinas, pois era muito inteligente
e estudiosa, ajudando muitas vezes aos seus colegas nas tarefas de casa. Apesar
de ter nascido em um berço de pobreza teve uma infância feliz, sempre em
contato com os animais e a natureza. Sempre frequentava o vilarejo o qual era
chamado de Vila Nova (hoje Piedade), onde visitava alguns parentes e amigos,
essas visitas se tornaram mais frequentes com a chegada do ouro, na década de
30, foi devido à movimentação desse minério e a grande circulação de pessoas
que ela resolveu colocar um hotel onde atendia todas as pessoas da comunidade e
cidades circunvizinhas, tornando-se a primeira hoteleira de Piedade. Foi nessa
época que conheceu um jovem visitante que também abrira negócios no vilarejo,
Antonio Eugênio, natural de sitio São Sebastião, município de Desterro, no
estado da Paraíba.
Antônia aos 17
anos Antônio
Eugênio
Foi numa novena no dia 13 de maio de 1940 que
se conheceram e logo se apaixonaram, foram 4 anos de namoro, casaram-se na
capela de nossa Senhora de Piedade a 24 de dezembro de 1945, celebrado pelo
padre João Leite, pároco da matriz de Itapetim. O senhor Antonio Eugênio foi
também conhecido como um dos primeiros comerciantes de Piedade. Juntos tiveram
nove filhos.Sendo que o primogênito faleceu ainda criança.
José Eugênio Romualdo EugênioRaimunda
Luiz Sebastião MariaCecy
Os seus oito filhos tiveram uma boa educação, sendo todos
encaminhados para o curso superior, devemos isso aos esforços de nossos pais,
principalmente a nossa matriarca, que apesar de seus poucos estudos dedicava
seu tempo livre a ensinar os seus filhos a ler, escrever e os ensinamentos da
igreja, pois é uma pessoa extremamente religiosa
.
Dotada de uma memória excepcional e por ser uma pessoa
dedicada aos livros tornou-se uma criatura de extrema sabedoria, chegando a
surpreender estudiosos e autoridades, conseguindo discutir e debater qualquer
assunto, seja esse político, social, econômico ou cultural. Admiradora da
geografia e da história, apesar dos seus 91 anos de idade consegue relatar toda
a trajetória da revolução de 30, recitando algumas estrofes do verso escrito na
detenção por João Dantas, antes do seu suicídio e descrever com clareza a maior
parte da geografia do Brasil e do mundo.
Poesia escrita em homenagem ao
Brasil
Oh! Meu Brasil terra adorada
Na santa cruz abençoada
Minha terra enternecida
Eu te consagro a minha vida
Brasil, és expiração
De Pedro Álvares Cabral
Brasil, és a criação
Amar a outra sem igual
Abençoada caravelas
Que Deus lançou no alto mar
Bonitas e lindas caravelas
Que o meu Brasil veio encontrar
|
Poesia de João Dantas
Já houve tanta
desgraça
Que abalou meu
coração
Só falta ser
derrubado
As paredes da
detenção
Adeus meus queridos
pais
Adeus minha noiva
querida
Que um pobre como eu
Não mereço mais ter
vida
Minha irmãzinha
querida
Teu esposo vai
comigo
Sei que a culpa
condena
Mais dele eu sou um
amigo
|
Quanto à história do município de Itapetim é uma das historiadoras, descrevendo a história do povoado de Piedade desde a época de sua fundação até hoje, já tendo sido entrevistada pelo jornal Horizonte da cidade de São José do Egito.
A seguinte reportagem fala da história da Piedade contada por
dona Antônia e outros moradores da comunidade.
E sendo uma das colaboradoras nos livros “Itapetim cidade das
pedras Soltas” de Marcos Roberto Nunes Costa, e “História Socioeconômica das
Regiões de São Vicente e Piedade” de Alberto Rodrigues de Oliveira.
A partir de seus 80 anos de idade tornou-se diabética e mesmo
com todas as complicações dessa doença, não se deixou abater, e com muita
lucidez atropelou a diabete, pois aos 91 anos de idade partiu para uma nova
etapa de sua vida, fazer poesia, de forma divertida e criativa e em algumas de
suas colocações diz que vai parar no livro dos recordes.
Se referindo a sua
terra natal ela fez a seguinte poesia;
Quero ver minha Teixeira
Terra do meu coração
Vou ao sitio Tanque Coberto
Que tenho admiração
Seu povo alegre, hospitaleiro
Dando viva a São João
Crie-me em Tanque Coberto
Município de Teixeira
Vivi mais de vinte anos
Naquela serra altaneira
Com minha família inteira.
Recordando a sua união com o seu falecido marido, ela diz o
seguinte:
Eu conheço Piedade
Desde o tempo de criança
Piedade foi meu destino
E foi minha esperança
Casei-me na Piedade
Nunca saiu da lembrança
Antonio quando correu
Foi com a chibata na mão
Tinha uma burra selada
Montou e queimou o chão
Mandou dizer a Antonia
Descansa teu coração.
Oh! Antonio eu não gosto
De relembrar o passado
Ainda ontem eu vi Antonio
Montado no seu cavalo
Dando tapa em novilha
Na fazenda Olho D’água.
Poesia homenageando a
terra que adotou para viver toda a sua vida sua vida.
A minha terra querida
Vida minha me convém
O povo de Piedade
Sabe a força que tem
Por você eu mato e morro
Pois nunca matei ninguém.
Meus filhos quando eu morrer
Não quero choro, nem nada
Quero um cordão na cintura
E a mortalha bordada
Escrito no meu cachão
“Lembranças da Piedade”.
Nos momentos de angústia
por causa de sua doença ela escreveu as seguintes poesias:
Eu moro na Piedade
Nesta grande solidão
Sem amigo e sem parente
Sem cunhado e sem irmão
Numa cadeira de roda
Eu ando no empurrão
Com minha perna quebrada
Não posso pisar no chão.
Eu aqui na Piedade
Não tenho mais quem me adore
Nem uma cama que me deite
Nem um ombro que me escore
A boca dizendo cante
E alma dizendo chore.
Falando do amor que
sente pelos seus animais de estimação. Ela fez a seguinte poesia:
Quando eu sair dessa casa
Levo a saudade ao meu lado
Saudades dos passarinhos
E do querido veado
Saudades do papagaio
Que é o meu advogado.
Sentido saudades de
sua mocidade, ela disse:
Na minha mocidade
Eu era chamada de bem
Hoje me chamam de velha abusada
Que não gosta de ninguém
Porque eles não entendem
O valer que o velho tem.
Falando de seu neto ela fez a
seguinte poesia:
Matheus é o meu neto
Que eu amo e quero bem
Não tem balança que pese
A força que o amor tem
O amor é como a morte
Que não escolhe ninguém.
Matheus é um menino
Que não gosta de estudar
Quando pega no caderno
Dá vontade de aboiar
Quando ele pega no livro
Dá vontade de chorar.
Se referindo a sua
filha, ela escreveu a seguinte poesia:
Cecy é para mim um encanto
De amor e formosura
Não é tanto no saber
Como também na leitura
Admira a Piedade
Essa querida figura.
Em relação ao médico
do PSF de Piedade, em um dos seus debates,ela escreveu a poesia:
Agostinho na Piedade
Só queria ser o maior
Bota a corda no pescoço
E não sabe arrochar o nó
Poeta como Agostinho
Eu dou pisa de cipó.
Ao receber um presente do seu genro
Audimam, ela agradeceu dizendo:
Obrigado pelo presente
Foi dado de coração
Nesta cadeira de roda
Eu ando ao empurrão
Agora com essas luvas
Não faço calo na mão.
Como é uma pessoa romântica, amante
da natureza, ela fez as poesias:
Eu não sei compreender
A força que o amor tem
O amor é como a morte
Que não separa ninguém
Quem tem amor tem ciúmes
Quem tem ciúmes quer bem.
Naquela tarde chuvosa
Que eu te encontrei
Muitos passos foram dados
Quando eu me afastei
Ainda olhei para traz
E de tristeza chorei.
Referindo-se a seu novo talento, declamou
a poesia:
Eu nasci para ser poeta
Porém não tive estudo
Quando pego no caderno
Os meus dedos ficam duros
Então o povo diz
É poeta do absurdo.
Ao receber a presença do prefeito de Itapetim
A senhor Adelmo Moura
Prefeito de Itapetim
Visitou a minha casa
Fazendo elogios a mim
Dizendo - Vou juntar suas poesias
A história de Itapetim
Falar de Dona Antônia
esta mulher extraordinária, mãe, avô,bisavô, amiga onde nos seus pensamentos
conseguiu penetrar no âmago das coisas, ou seja, na verdade sempre teve um
fraco pela beleza da natureza, pela música e pela poesia, enfim que de tanto
acenar-lhe veio morar na sua alma.
Antônia -
CantoraAntônia – Música
Atualmente ela tem 21
netos e 08 bisnetos.
Júnior Clayton Luciano Paraguassu
Audinete
Rigoberta
Rubens Luanne e Alanne
Mathuzálem MárciaMarco Aurélio Eugênio
Matthaus
KésiaYago
Carlos
Vitória Anderson Isabela
Quem a conhece poderá
encontrá-la ao entardecer na frente de sua casa, sentada na sua cadeira de roda
a sorrir e conversar com as pessoas que por ali passam. Acompanhada do seu
grande amigo e advogado, o papagaio, que é assim como ela o chama. Essa figura
simpática, de uma meiguice e serenidade que nos encanta logo à primeira vista e
que se tornou um marco na história da Piedade.
Dona Antonia com seu
papagaio Dona Antônia de frente a sua casa